Há um ano, AVP chegaria até Superliga B. Foi exceção à regra em MS?
Há exato um ano, um time de Mato Grosso do Sul conquistou uma das quatro vagas da Taça Prata, que deu direito a disputa da Superliga B de vôlei, divisão de acesso a Superliga Principal.
Com a AVP, então com o apoio do Rádio Clube de Campo Grande, o vôlei sul-mato-grossense voltou a ter um representante no vôlei nacional adulto depois de cerca de 30 anos (desde a época da Copagaz/Copasa na década de 80).
Depois da disputa da Superliga B, em que não foi bem, este ano o plano era batalhar novamente na Taça Prata e, com mais experiência, melhorar o desempenho na Segunda Divisão da Superliga. Porém, sem apoio e, de acordo com o diretor da AVP, principalmente sem ginásio para treinar, o clube está parado.
E, nenhum representante do Estado foi à disputa da Taça Prata deste ano, que termina neste sábado (28), em Itapetininga, interior paulista. O que enterra as esperanças de Mato Grosso do Sul ter um clube na Superliga.
Diante deste cenário, o Só Por Esportes abordou o assunto com Genivaldo Alves, da AVP, que encerrou as atividades em 20 de agosto, por falta de apoio (mais sobre isto clique aqui ou leia depois no fim da página em Notícias Relacionadas).
E, leu o que escreveu o presidente da federação estadual de vôlei, José Eduardo da Mota, o “Madrugada”.
Seria a participação da AVP na Superliga B, ocorrida entre janeiro e abril deste ano uma exceção à regra na realidade do vôlei de Mato Grosso do Sul?
Genivaldo Alves, que tem proposta para levar seu projeto a uma cidade do interior paulista, respondeu por mensagens de áudio ao SPE na manhã desta sexta-feira (27).
“Enquanto não existir investimento no esporte, não vai surgir equipes. Nós chegamos investindo pesado. Muitos falaram da ousadia, de um time muito ganancioso, e não vejo por esse lado. Na vida você tem de ter metas, e nossas eram essas, todas foram atingidas. E, esse ano poderiam ter sido atingidas novamente. Mas, sem quadra, como atingir?”, questiona.
“Ano passado fomos campeões em praticamente tudo. Era um elenco excelente, Mas, a diferença é que lá atrás nós tínhamos o Rádio (Clube) à disposição de manhã, tarde e noite para treinamento. Aí, (as coisas) acontecem. Porque o professor tem tempo para simular os jogos, trabalhar em cima do adversário. Este ano a gente não teve isso, horários limitados, muito pouco, sem espaço para treinamentos específicos não tivemos nada disso. O que conseguimos fazer foi coletivo, apenas isso. Diante disso não vale a pena investir”, observa o diretor da AVP.
“Para se ter uma ideia, ano passado vencemos a UCDB em todos os jogos. Este ano, perdemos todos os jogos. Não temos como trabalhar. Pode ter sim um time de Mato Grosso do Sul no cenário nacional que, no meu ponto de vista, é a UCDB. Tá jogando agora o JUB’s, e parece que vai cair para a 3ª Divisão. Ano passado, foi nós que fomos (aos Jogos Universitários Brasileiros). Há dois anos seguidos, eles (UCDB) estavam na Terceira, ano passado nós fomos, fomos campeões, subimos para a Segunda e iríamos para brigar, mas infelizmente aconteceu tudo isso.
“Ah, mas (a culpa) é da UCDB? Não, tem vários fatores. Por exemplo, a parada da gente desmotiva eles porque vinham trabalhando muito forte para vencer a gente. Isso para nós era importantíssimo, porque o voleibol daqui estaria crescendo. Nosso objetivo era exatamente esse. Não precisar sair daqui para fazer amistosos, para ver como o time está. O UCDB, ano passado era um time, esse ano tá muito superior. Isso é muito bacana. Pena, que nós enxergamos isso, mas os órgãos públicos as vezes não enxergam dessa forma”, falou Genilson.
“Tudo isso responde o que você perguntou. Se seria uma exceção à regra. Prova disso é o time deles. Tem todo potencial para jogar uma Superliga B, uma Taça de Prata. É um time muito forte, mas falta isso. Incentivo para eles. Não só para eles, como outros esportes também. Acho que o governo, tá mais na hora de deixar de lado essa situação de ‘só o lazer’ e pensar no alto rendimento. Muitos querem crescer, sonham em ser um atleta... Tem muitos atletas bons aqui. Mato Grosso do Sul tem estrutura? Temos vários ginásios, tudo parado, destruído. Eu acho que um time, independente, que batalha prá caramba, pedir um ginásio pro governo, pra prefeitura. Acho que isso não é demais.”
E, dá uma sensação de "puxa, a gente poderia estar lá" de novo? Do elenco adulto, algum conseguiu vaga em algum time adulto fora de MS? “Com certeza, a gente pensa nisso. E, não seria diferente, com certeza estaríamos lá. (Este ano) Era uma competição alvo nossa. Mas, Deus sabe das coisas, não depende de nós. Tenho acompanhado pela internet os jogos, alto nível. Temos o França, que jogou como oposto conosco, está jogando em São José do Rio Preto. Nós temos o Danilo, central, o Luis Carlos, central, e o Marcelo, levantador, que estão jogando no interior de Minas (Gerais)
Sobre a situação da AVP, a situação não mudou desde o anúncio do encerramento de suas atividades, logo depois da Copa Pantanal. “O clube está parado. Tá muito difícil trabalhar aqui em Mato Grosso do Sul, não tem quadra, não tem estrutura. Você vai ao governo, o maior espaço, o Guanandizão, está interditado. Solicitamos alojamento, recebemos negativa”, comenta Genlvaldo .
Segundo ele, “de três em três meses”, existe a promessa de que o local seria reformado, mas diz não ver movimentação no ginásio que justifique. “Diante disso, ficamos de mãos atadas. Hoje, converso com uma cidade de São Paulo, que tem interesse em levar nosso projeto e, no momento, é o que nós temos de concreto”, acrescenta.
“Quando você tem uma paixão, não importa o local, os obstáculos, as barreiras. Você tem que quebrá-las, tem que lutar e é o que vínhamos fazendo. Porém, sem quadra, fica impossível. Alugar quadra é muito caro. Uma hora no ginásio Dom Bosco varia de 60 a 120 reais, não é barato. E, quando iniciamos o projeto, isso não estava em nossa programação. Então, assim, muitas coisas saíram do nosso alcance”, diz Alves.
Sobre ajuda do poder público, o diretor lamenta principalmente a falta de apoio da prefeitura. ‘Tínhamos, sim, o professor Marcelo Miranda, através da Fundesporte (fundação estadual do qual Marcelo é o diretor presidente) , que sempre nos ajudou. A Taça Prata mesmo, a quadra para a (disputa) da Superliga B, ter cedido ônibus, dado o transporte para que pudéssemos deslocar até o Rio de Janeiro e, consequentemente, conquistar a vaga nos ajudou na medida do possível, dele. Mas, a prefeitura em si, até hoje, não colaborou com absolutamente nada”, disse.
“Mas, mesmo assim, se você observar o nosso uniforme, tem prefeitura, tem governo, independente de apoio ou não, a gente representa esse Estado. Sou mato-grossense, mas vivo aqui há 21 anos, então gosto muito dessa cidade, e sempre que viajamos, representamos com muita raça”, completa.
Para FVMS, a (falta de) cultura do poder privado em Mato Grosso do Sul de não patrocinar dificulta o esporte de alto rendimento
José Eduardo da Mota Madrugada enviou as respostas na quinta-feira (26) por e-mail. O presidente da FVMS está em Fortaleza (CE), onde coordena o Campeonato Brasileiro de Seleções Infanto-Juvenil da 1ª Divisão.
“A cultura do nosso Estado em não patrocinar ou auxiliar financeiramente representações esportivas em competições de alto rendimento tem dificultado a continuidade das equipes e associações em garantir uma ascensão dos atletas que passam da categoria de base para a categoria adulta”, argumenta Madrugada.
“A falta de estrutura física adequada tem prejudicado o sediamento de competições importantes a nível regional, nacional e internacional. As existentes são privados e o custo de locação inviabiliza a realização de eventos”, acrescenta.
Esclarece que, “a contribuição da federação para as equipes interessadas em participar da seletiva para Liga B (Taça Prata) é auxiliar em tudo aquilo que não depende de recursos, tendo em vista que não existe valores nas finanças da FVMS disponibilizado para esta finalidade.”
Segundo o dirigente, “para se ter uma ideia em Campo Grande apenas duas equipes no feminino e uma no masculino procede os seus treinamentos visando as competições da categoria adulto, as demais equipes que participam dos campeonatos não realizam o seus treinamentos com frequência”.
Sobre a ajuda dos órgãos públicos, Madrugada cita a falta de envolvimento do poder privado. “Os possíveis auxílios também são limitados tendo em vista a burocracia existente para determinadas tipo de despesas que são consideradas importantes (ajuda de custo dos atletas, pagamento dos membros da comissão técnica, locação de espaço físico para hospedagem dos atletas, despesas com hospedagem e alimentação com jogos em outras sedes etc.). O essencial seria a participação das instituições privadas para cobrir as referidas despesas.”