Dos EUA, Bruna Benites fala de seleção, futebol a todos, e furacão
- Luciano Kishô Shakihama
- 4 de set. de 2017
- 5 min de leitura
A zagueira Bruna Benites está entre as 20 convocadas há uma semana (dia 28), por Emily Lima para amistosos na Austrália, com as donas da casa, dias 16 e 19 deste mês. De Dallas, a jogadora de 31 anos, nascida em Cuiabá-MT e revelada no Comercial de Campo Grande – capital sul-mato-grossense onde mora boa parte dos familiares, falou ao Só Por Esportes.
Capitã da seleção, Bruna Benites fala sobre as lições que a equipe tirou do último compromisso internacional, o Torneio das Nações, disputado no fim de julho nos Estados Unidos. O Brasil abriu 3 a 1 mas perdeu para a anfitriã por 4 a 3. E, na sequência, sofreu goleada pelo elástico placar de 6 a 1 para as Matildas, apelido da seleção feminina da Austrália.
Jogadora do Houston Dash, clube com quem assinou contrato no fim de novembro de 2016, foi questionada sobre o fato de 15 das 20 convocadas para os jogos deste mês atuarem fora do país.

Empilha fator em cima de fator, tendo como pano de fundo os obstáculos que o esporte feminino enfrenta no Brasil. Fato agravado em sua visão quando se compara aos Estados Unidos. “Acho que nós temos entender que o esporte é para quem quiser jogar, independente do gênero”.
Bruna relata que deixou Houston na manhã do dia 25 de agosto, depois de aviso sobre a passagem do furacão Harvey. E, somente nesta segunda-feira (4), a brasileira retornou para a cidade de 2,3 milhões de habitantes. Teve de ficar os dez dias em Dallas, a 240 km da região afetada. “É triste ver este tipo de coisa acontecer em qualquer lugar, principalmente no lugar que a gente está morando agora”.
Confira o trio de perguntas do Só Por Esportes e as respostas-relatos gravadas por Bruna Benites no domingo (3).
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Só Por Esportes – Em julho, no Torneio da Nações, a seleção foi derrotada pela Austrália, que será adversárias nos amistosos, e pelos EUA, inclusive para as estadunidenses, quando fez um dos gols, você disse à CBF TV que saiu frustrada pelo Brasil ter tomado a virada (3 x 4). Diante das australianas, o placar foi mais dilatado (1 x 6). O que deu para tirar de lição e qual a sua expectativa para os jogos do mês que vem?

Bruna Benites - É óbvio que toda derrota é frustrante. A gente sabe que tem de se tirar alguma coisa de resultado negativo. Uma das maiores lições, pelo menos para mim, foi em relação á concentração. A gente não pode perder a concentração nem um segundo nesses jogos de alto nível... E qualquer descuido, a qualquer momento, pode acabar levando a um resultado negativo e foi isso que aconteceu.
O jogo com os Estados Unidos foi muito difícil. Conseguimos abrir uma diferença de dois gols durante o jogo e acho que foi neste momento que nós erramos Nós relaxamos e acabamos cedendo o empate e, logo em seguida, a virada para elas. E isso foi bastante frustrante porque a gente sabia que estava fazendo um bom jogo, que tinha condições de ganhar o jogo... Abrir uma diferença de dois gols contra os Estados Unidos não é qualquer um que consegue. Nós vínhamos bem, perdemos a concentração e acabamos deixando escapar esta vitória.
O jogo com a Austrália foi um jogo atípico. Se nós jogarmos dez vezes contra a Austrália, isso não vai acontecer. Infelizmente, aconteceu e isso ficou para trás. Agora são dois novos jogos, dois amistosos, que temos de fazer uma boa apresentação, esquecer o que aconteceu do jogo anterior e apresentar novo trabalho. A gente vem trabalhando bastante, todo mundo sabe o que tem de ser feito.

SPE – Das 20 convocadas, a técnica Emily Lima chamou 15 que atuam fora do país. Acredita que isto será uma tendência? É possível relacionar com o fato de que as jogadoras brasileiras ganharam mais espaço/visibilidade no exterior. Ou, na verdade, é resultado da pouca estrutura que os clubes do Brasil tem para manter seus elencos?
Bruna - Acaba sendo uma coincidência. A seleção, na verdade, vem mantendo uma base, né?! É complicado, infelizmente o calendário que nós temos no Brasil não favorece (as jogadoras), a estrutura que nós temos no Brasil não favorece, a maneira que o futebol feminino é levado no Brasil ainda não é a maneira ideal.
Lógico que melhorou muito em relação a algum tempo atrás. Mas, ainda sim faltam algumas coisas... falta mais apoio, mais estrutura, mais organização.
Hoje, estou tendo a oportunidade de disputar a liga aqui nos EUA e ver de perto como funciona. Acho que a principal diferença entre Estados Unidos e Brasil é a seriedade com que a Liga é tida, a maneira como eles lidam com as coisas do futebol feminino, o profissionalismo. Na verdade, as pessoas gostam muito da modalidade. E, aqui uma coisa que mais me chama a atenção é que em qualquer lugar que você vai, qualquer campo que você vai, em qualquer esquina, tem crianças, tem meninas jogando futebol.

E isso é uma coisa que não acontece no Brasil. A maior diferença é isso. Vem desde pequeno. Aqui, é normal menina jogar futebol. Isso é uma coisa que a gente ainda está atrás, que vai demorar um pouquinho para que nosso país veja o futebol feminino como esporte de menino, de menina, de quem quer jogar futebol.
A gente não pode falar que tal esporte é para meninos, tal modalidade é para meninas. Acho que nós temos entender que o esporte é para quem quiser jogar, independente do gênero.
E, a seleção é uma porta. A gente acaba sendo vista, sabemos que temos jogadoras de qualidade. Independente de estar na seleção ou não, acho que todas tem capacidade e qualidade suficiente para jogar em qualquer lugar do mundo.

É lógico, se você me perguntar, eu adoraria estar jogando dentro do meu país. Mas, foi uma opção que eu tive, que eu escolhi, de jogar nos EUA e estou bem feliz aqui.
SPE – Para encerrar, como estão as coisas aí no Texas, que teve região atingida por furacão? Teve jogo do fim de semana adiado e pelo visto o Dash deve voltar a campo no domingo (3), diante do Seattle, né?! Te assustou? Fez pensar em voltar para o Brasil ou também não é para tanto?
Bruna - É lógico que assusta. No Brasil nós não temos este tipo de coisa. Felizmente, eles tem alguns sistemas de prevenção aqui e nós ficamos sabendo que ia acontecer (a passagem do Furacão) uns quatro dias antes, então a gente acabou se organizando. Conseguimos sair de Houston na sexta-feira (25) de manhã e viemos para Dallas. E tudo começou na sexta-feira à noite.
Sabia que ia ser uma situação delicada mas não imaginava que ia ser da forma que foi. Assustou bastante, acompanhamos de longe. Ainda não voltamos para Houston, estamos em Dallas... sexta-feira (1º) faz uma semana que estamos fora de casa.
Infelizmente, nossa casa sofreu bastante com a enchente. Perdemos algumas coisas, mas estamos bem. Graças a Deus, está todo mundo bem. Mesmo as meninas que ficaram em Houston, conseguiram ficar bem.
Agora estamos todas reunidas, domingo a gente joga aqui em Dallas (o time perdeu por 1 a 0 para o Seattle Reign), e é uma coisa que nós temos de usar como força.

Porque foi uma cidade inteira do tamanho que é, debaixo da água. Muitos danos, muitas perdas, muitas pessoas sem casa. É triste ver este tipo de coisa acontecer em qualquer lugar, principalmente no lugar que a gente está morando agora. Mas, graças a Deus ficou tudo bem, estamos seguras. E é isso.
Um toque: Reiteramos que as respostas foram dadas no domingo (3).
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